Amor no lugar de vingança
No Evangelho deste final de semana, continuação do domingo passado (Mt 5, 38-48), 7º domingo do tempo comum, Jesus pede a seus discípulos que não cultivem sentimento de vingança e amem os inimigos. Esta é a novidade do ensinamento de Jesus em relação à antiga lei. O “que foi dito” é substituído, agora, pela revelação de Jesus através de sua prática e de suas palavras.
Jesus remove o mau espírito de vingança pela prática da bem-aventurança da mansidão. A lei do talião, na tradição de Israel, incitava à vingança, no caso de uma violência sofrida: “vida por vida, olho por olho, dente por dente, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (Ex 21,23-25). A Lei configurava, assim, uma cultura marcada por um espírito vingativo e cruel. O preceito de Jesus de não oferecer resistência ao malvado, vem romper com o ciclo contínuo da violência.
Contudo, embora não se responda à violência com violência, cabe, contudo, questionar e denunciar os agentes da violência. Em uma sociedade onde a violência é praticada pela ambição, em particular por parte dos poderosos grupos de enriquecidos, cabem os movimentos sociais em defesa dos oprimidos, e o empenho no estabelecimento de estruturas socioeconômicas mais justas.
Outra novidade apresentada por Jesus é o amor aos inimigos, removendo a antiga imagem de Deus apresentada no Antigo Testamento como aquele é inimigo dos inimigos do “povo eleito”, e os destrói. As concepções de povo eleito e de terra prometida fundamentavam a histórica segregação e conflito de Israel com os demais povos. Assim justificavam a sua violência: “Deus parte a cabeça dos seus inimigos e o cabeludo crânio do que anda nos seus próprios delitos” (Sl 68,21).
Jesus revela um Deus de misericórdia sem limites. O apelo à conversão tem o sentido tanto de mudança das referências religiosas da antiga tradição de Israel, como dos sentimentos pessoais. A revelação do Deus Amor abre o caminho da perfeição a todos. A compreensão de que somos todos filhos do Deus Pai e Mãe e a percepção de que seu amor é sem limites leva à fraternidade universal, à solidariedade e à partilha, vivendo-se com alegria tendo como meta a união e a Paz. A propósito, agimos com amor e misericórdia ou ainda estamos no Deus do Antigo Testamento?
Pe. Leonir Alves